quinta-feira, 23 de junho de 2011

Dry Martini faz 100 Anos de história

O dry Martini, o mais famoso e clássico dos coquetéis, o favorito de James Bond, está fazendo 100 anos. Ou pelo menos a versão mais aceita de sua origem, a de que foi criado pelo bartender do Knickerbocker Hotel, de Nova York, que se chamava Martini.

Pelo que se sabe, a primeira receita do coquetel levava duas partes do vermute italiano Martini & Rossi, uma parte do gin Old Tom, duas gotas de licor de maraschino, uma gota de um bitter (tipo Angostura), era agitado e servido com uma casca de limão. Desde então, nenhum outro coquetel teve tantas alterações e preferências em sua receita quanto ele. Em 1939, o rei britânico George VI e o presidente americano Franklin Delano Roosevelt discutiam a guerra que se aproximava bebendo martinis;  Frank Sinatra era um fã declarado, assim como outros bons bebedores como Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Dorothy Parker, E.B.White…. Cada um deles, provavelmente, com uma receita diferente.
Qual o melhor dry Martini? Deve levar gin ou vodca? E quanto de vermute? Azeitona ou uma casca de limão? Agitado ou mexido? Por quanto tempo e com quanto gelo?
Há algumas semanas aconteceu em São Paulo um concurso  mundial de bartenders e foi feita pela Coluna Comidinhas dom site IG uma entrevista com um especialista no assunto, o barman e também embaixador global do gim Tanqueray, Angus Winchester. Como ele é parte interessada no assunto, já cortou logo de cara a primeira pergunta: “Dry Martini é com gin; com vodca é o vodca Martini, ele pode ser o seu favorito, mas é outra bebida”. Vamos a entrevista completa.

Comidinhas: Qual o melhor dry Martini?
Angus Winchester:
 O melhor dry Martini não tem a ver com uma receita. Eu posso dar uma e até vou preparar uma hoje pra você. Mas ele tem mais a ver com uma boa conversa. Quando estou em um bar e alguém me pede um dry Martini, tem quatro perguntas que eu preciso fazer:
1)      Quais são os ingredientes que você quer nele?
Qual marca de gin e de vermute você gosta. Hoje há dezenas delas. O gin, por exemplo, que nos últimos 20 anos ficou bem esquecido e perdeu espaço para a vodca, agora está voltando à moda. Mas, por conta disso, há uma grande variedade dele, alguns mais secos, outros mais frutados. Algumas marcas começaram a diminuir muito a quantidade de zimbro, arbusto que é a base do gim, mas que não agrada a todos os paladares. E aumentar a quantidade de frutas e ervas. Há até gin com coco. 
2)      Agitado ou mexido?
Dependendo da escolha, o sabor será muito diferente e interfere sim. Porque o coquetel deve estar devidamente gelado. Algumas pessoas apenas colocam todos os ingredientes juntos e deixam repousar. Tem gente que já faz com nitrogênio líquido e vira uma pipoca de dry Martini…

3)      O quão seco você gosta?
Você quer um vermute mais seco, mais doce ou um dry muito seco (com muito pouco vermute) ou um meio a meio… São tantas as variações.
Uma vez, eu estava em Londres e uma amiga estava em Los Angeles. Ela me telefonou e pediu para eu dizer pelo telefone a palavra “vermute”. Eu disse. Aí ela agradeceu e disse que essa era a quantidade perfeita de vermute no seu dry: alguém o mais distante possível dizer a palavra vermute enquanto ela bebia seu coquetel, totalmente feito com gin.
 4)      A quarta questão é a que eu chamo de “questão Charles Dickens”: azeitona ou casca de uma fruta cítrica?
De novo, um milhão de combinações: azeitonas negras ou verdes. Eu recebo 55 tipos de azeitonas para um Martini. Twist de limão, de grapefruit…?
Enfim, é uma longa conversa, uma cerimônia. Há um bar em Barcelona que se orgulha de já ter servido 1 milhão de martinis. Quando você vai ao bar, ganha o certificado do seu. E é isso mesmo, milhares de possibilidades.
Comidinhas: Mas James Bond pedia dry Martini com vodca…
Angus Winchester:
 Se você ler os livros, vai saber que James Bond era um grande bebedor, de tudo: gin, vodca, Bourbon. No filme é que surgiu essa história de só beber Martini com vodca.
 Comidinhas: E dry Martini é bebida para mulheres? Há quem estranha quando uma mulher pede um dry.
Angus Winchester:
 Existe uma piada que diz que os bebedores realmente sérios de Martini têm apreço a três artes: pesca, jogos de caçadas e beber Martini. Mas, falando sério, o dry Martini é uma bebida com tanto sabor e nenhum açúcar que é sério não apenas para os homens, é o rei dos coquetéis. E eu respeito mulheres que apreciam um Martini.


Comidinhas: E qual o seu dry Martini perfeito?  
Angus Winchester:
 Duas parte de gin Tanqueray 10, o gin premium da Tanqueray, que leva bastante zimbro, como um gin deve ser, mas é também bem cítrico, com laranja, grapefruit e lima. Uma parte de vermute, gosto do Noilly Prat. Mexido, com muito gelo. Quantas vezes eu mexo? Algumas até sentir que a bebida está gelada. Não gosto de copos de dry Martini muito grandes, gosto dos pequenos ou medianos, porque conseguem manter o coquetel gelado e isso é um dos segredos. Não gosto de azeitonas, então pego uma casquinha de grapefruit e torço-a duas vezes sobre a bebida, depois esfrego na haste do copo, para que minha mão entre em contato com esse cítrico e libere mais aromas. E meu dry Martini fica em tons de amarelo. Quer saber por que? Um tanto por conta do Tanqueray 10. Mas principalmente por isto:
“There is something about a Martini,
A tingle remarkably pleasant;
A yellow, a mellow Martini;
I wish I had one at presente.
There is something about a Martini,
Ere the dining and dancing  begin,
And to tell you the truth,
It is not the vermouth _
I think that perhaps it´s the gin”
(“A Drink with Something in It”, do poeta Ogden Nash)

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